top of page
Buscar

Bebês Reborn: Quando o Luto Não Elaborado Vira Tendência

  • Foto do escritor: TREND Marketing
    TREND Marketing
  • 13 de mai.
  • 2 min de leitura

Elas dormem em berços, ganham nomes, roupas e até consultas no pediatra. À primeira vista, as bonecas reborn parecem apenas um hobby delicado — uma mistura de arte e colecionismo. Mas, quando olhamos mais de perto, é impossível ignorar o laço emocional que muitas vezes se forma com essas figuras hiper-realistas.

A pergunta que fica é: quem está cuidando de quem?


Uma presença simbólica

Para algumas mulheres, especialmente aquelas que nunca engravidaram (nuligestas) ou que passaram por perdas gestacionais, os bebês reborn funcionam como uma presença simbólica. Uma tentativa emocional de preencher um vazio. Esses vínculos não são apenas afetivos — são profundamente psíquicos.

A boneca se torna um lugar de projeção. Um "faz de conta" emocional, onde é possível exercer o cuidado, mesmo que dentro de uma fantasia.


O que Winnicott diria?

Na infância, objetos como paninhos e brinquedos especiais ajudam as crianças a suportar a ausência da mãe. Donald Winnicott chamou isso de objeto transicional — uma ponte entre o mundo interno e a realidade.

Mas e quando, na vida adulta, o objeto simbólico passa a ocupar o lugar da dor que não foi vivida?

Nesses casos, o que antes poderia servir como apoio emocional pode se tornar um obstáculo. Ao invés de ajudar no processo de elaboração do luto, a boneca pode funcionar como um congelamento da dor.


Luto não vivido, dor não curada

O luto é uma passagem — e não pode ser apressado ou ignorado. Elisabeth Kübler-Ross descreveu cinco etapas desse processo: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Todas fazem parte de uma travessia legítima.

Mas quando alguém fica preso na fase da negação, tende a buscar refúgios imediatos. E aí, entram as "muletas emocionais": substitutos simbólicos que oferecem conforto, mas evitam o confronto com a perda real.


O problema? O luto não vivido se transforma em dor crônica.


O mercado e a estética da ferida

O mercado percebeu algo poderoso: a dor vende. E hoje, vivemos um momento em que feridas emocionais estão sendo transformadas em estética de consumo. O consolo é empacotado em produtos: bonecas realistas, terapias rápidas, frases de efeito.

É um alívio instantâneo. Mas como todo alívio rápido, ele cobra um preço.

O bebê reborn não é o vilão. O que preocupa é o vazio que ele tenta preencher — e a solidão de quem, ao invés de ser acolhido no luto, encontra apenas silêncio e consumo.


Luto não é fraqueza. É processo.

Mais do que uma tendência, os bebês reborn expõem o quanto o luto materno — e os sonhos não vividos da maternidade — ainda são temas invisíveis. Negados. Interrompidos.

É preciso abrir espaço para a dor real. E lembrar que o luto não é sobre "seguir em frente" como se nada tivesse acontecido. É sobre seguir com o que aconteceu. Reconhecer a ausência. Viver a travessia. E, um dia, elaborar a perda — sem precisar disfarçá-la.


Reflexão final: Nem toda forma de conforto é cura. E nem toda tendência é inofensiva. Às vezes, aquilo que parece apenas “fofo” está, na verdade, tentando dizer algo que não teve espaço para ser ouvido.


O que você sente ao ver essa tendência dos bebês reborn? Você acha que estamos falando de bonecas — ou de dores que nunca foram vistas?

 
 
 

Comentários


rodapé 03.png
logo-ong-branco.png
bottom of page